Muitos são os que afirmam que nascemos, de certa forma, selvagens e que, à medida que crescemos, somos moldados por aquilo e aqueles que nos rodeiam. Somos a herança de um código genético que nos confere qualidades físicas, psíquicas e emocionais. Somos a adição de um núcleo familiar, de tudo o que conhecemos e daqueles que nos cruzam.

A dificuldade em compreender a dita “maldade gratuita” acompanha-me desde sempre. Reconheço em mim a dantesca incapacidade de entender todos aqueles que “só porque sim” escolhem injuriar e/ ou desonrar alguém.

A maior parte de nós, orgulhosamente, não assumida, trabalha porque precisa. Trabalha porque trabalhar é o seu sustento e o sustento dos seus. Trabalha porque a ausência de atividade laboral fá-lo sentir menos útil. Seja como for, quem trabalha, trabalha porque carece.

Desempenhar uma atividade laboral, independentemente, das suas características, implica envolver-se com outros. E não existe nada mais complexo do que lidar com pessoas. Carregadas de características próprias refletem a personalidade e a essência. Refletem os valores e as crenças.

São muitas as horas que dedicamos ao trabalho e é no mundo laboral, e não serão raros os casos, que governa a discórdia e o rancor. Impera a prepotência e a arrogância.

“Cada um por si” é a diretriz que comanda o quotidiano de muitos. Demoliram-se as paredes da boa educação, do respeito e do bom senso. Quem pensa e fala diferente deve manter-se na periferia. Pouco deve fazer-se ouvir, não vá o seu parecer causar desconforto ou despoletar a reflexão e o pensamento crítico de outros.

Uns, a título meramente gratuito, espezinham outros a fim de alimentar uma autoestima em ruínas. Procuram na “invalidação do outro” uma tentativa, claramente infértil, de um bem-estar em si próprio. À sua volta, promovem um ambiente com o peso de quem carrega o desconforto emocional.

Aos outros, impõe-se a capacidade de ser resiliente e a certeza de que somos e seremos sempre distintos, com tudo de bom e mau que isso acarreta. Feitos de defeitos e qualidades resta-nos escolher a melhor parte de nós. Ser mais leves, mais gratos, porque no final das contas, não será preciso muito para estarmos bem connosco e com os outros.