Quando o tempo se esgota

No passado Domingo, estava eu a assistir a um programa de televisão de talento infantil quando uma criança com apenas 15 anos entra em palco. Passa o típico vídeo de promoção e eis que ela diz algo como “porque já estou no limite da idade e o tempo está a esgotar-se…”. Como assim?

Começou logo um turbilhão de ideias na minhas cabeça. Como assim uma criança de 15 anos acha que o tempo está a esgotar-se para si, quando há uma esperança média de vida no nosso país superior a 80 anos? Pelas minhas contas, ela viveu menos de 20% da sua vida. Onde é que o tempo se está a esgotar? Porquê?

Vivemos dias de muita azáfama. Queremos ser e ter e fazer tudo a toda a hora. Não é que essa ideia passa para as nossas crianças? É verdade, elas aprendem connosco, por modelagem, que o mundo está a uma velocidade estonteante e que, se não formos a perfeição aos 20 anos, nunca conseguiremos ter casa, nem família, nem carro, nem emprego, nem seja lá o que for.

Mais do que isso, esquecemos de lhes ensinar sobre emoções, sobre lutar pelos seus sonhos, sobre direitos humanos e sobre a importância de cuidar do próximo sem esperar nada em troca. Esquecemos que lhes mostrar como o mundo é belo e que precisamos de cuidar dele como cuidamos – ou devíamos cuidar – do nosso corpo, da nossa casa. Esquecemos de lhes mostrar que há causas superiores, que há pessoas em dificuldades e que o nosso impacto no mundo deve pautar-se pelo respeito ao próximo.

Há uma vida inteira para isso. As crianças têm o direito a viver a sua infância, ao seu tempo de lazer e descanso, a desenvolver-se tranquilamente e de forma protegida e a serem amadas e respeitadas. Não devem ser pressionadas a nada, não devem sentir que o sustento da casa depende delas, não devem sentir-se desamparadas, que o seu percurso de vida depende apenas de si e que tudo aquilo que fará de mal – e erros todos/as cometemos, sempre – será irreparável.

Já que somos exímios em criar legislações e códigos de conduta, que tal começarmos a colocá-los em prática? Que tal protegermos estas crianças e permitir que elas explorem o mundo sem que sintam esta pressão de uma sociedade perfeita? Que tal nos preocuparmos mais em formá-las em valores do que pagar valores para que elas façam e tenham coisas? Colocar estas ideias em prática depende de cada um/a de nós!

Masculinidade tóxica

Porque que há tantos homens que ficam apavorados com a ideia de serem “efeminados”? De usarem roupas designadas como roupas de mulher, de usar verniz, maquilhagem, até um batom de cieiro?

Na nossa sociedade machista ser mulher é sinónimo de fraqueza. Logo, tudo o que seja criado com o sexo feminino em mente é visto como algo para fracxs. Um homem usar verniz ou um vestido é como cometer um pecado para com toda a raça masculina.

Quando é que uma peça de roupa ou um pouco de tinta tornou-se num sinal de fraqueza? Quando é que uma cor, um tipo de sapato passou a designar as nossas preferências sexuais? Quando é que chorar e emoções passaram a ser exclusivos das mulheres, quando é algo inerente de todxs xs seres humanxs?

Porque que os homens têm de se conformar à masculinidade tóxica existente na nossa sociedade? Usar saia, pintar as unhas, não faz de um homem menos homem. Não faz dele mais fraco. Faz dele uma pessoa que usa roupa, nada mais, nada menos. Um vestido, umas calças… No fim do dia continuam a ser roupa, não a designação do feminino ou masculino.